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Sinopse:
Nos finais do século XIX, José Leite de Vasconcelos registava a presença de uma comunidade de origem africana instalada na região alentejana do Vale do rio Sado. Retomando a questão em 1920, Vasconcelos chamou a atenção para as múltiplas fórmulas que eram utilizadas para designar esses homens e mulheres de pele escura que seriam descendentes de africanos escravos ou livres, ali instalados há séculos, sem que se conhecesse a origem dessa instalação: «Pretos do Sado», «Carapinhas do Sado», «Atravessadiços», «Mulatos do Sado». Constituindo um grupo singular pela sua permanência secular e pela sua especificidade física no espaço alentejano, os «Pretos do Sado» definiam-se igualmente pelo desinteresse da comunidade científica perante a necessidade de esclarecer a sua existência histórica. ¶ Este estudo pretende dar a conhecer a história de homens e de mulheres oriundos do continente africano, trazidos como escravos e que foram instalados durante séculos no território do Vale do Sado, provavelmente a partir de finais do século XV. Mas o espaço temporal deste trabalho estende-se através dos séculos seguintes, procurando nas dinâmicas económicas, sociais e políticas da história de Portugal, os elementos que permitem compreender a sua presença ligada a culturas extensivas como a do arroz a partir do século XVIII e a sua consolidação como comunidade estabelecida, afirmando uma identidade alentejana e portuguesa, que exclui hoje quaisquer marcas culturais significativas de um passado africano.
Índice:
AGRADECIMENTOS
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1 O VALE DO SADO, O TERRITÓRIO E A SUA OCUPAÇÃO: GEOGRAFIA, COLONIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO (SÉCULOS XV-XIX) 1.1 Delimitação do território: o rio Sado e as regiões vizinhas O Rio Sado e o termo de Alcácer O território e as suas fronteiras A Ribeira do Sado: a natureza e os lugares dos homens 1.2 Um espaço de circulação e de trocas: portos fluviais, caminhos terrestres e lugares de comércio Os Portos do Sado Rotas e mercadorias 1.3 A colonização da região sadina: a Ordem de Santiago, a propriedade da terra e a estrutura agrária A Ordem de Santiago e o povoamento A questão agrária 1.4 A região de Alcácer e do Vale do Sado: os homens e os sistemas produtivos A grande propriedade fundiária: terras e homens Sistemas e técnicas de produção O sal e as marinhas
CAPÍTULO 2 AFRICANOS NO VALE DO SADO UMA PRESENÇA DISPERSA, ANÓNIMA E SILENCIOSA (SÉCULOS XV-XVIII) 2.1 Os africanos-escravos no sul de Portugal: instalação, demografia, trabalho O comércio de escravos e a chegada de cativos a Portugal A distribuição dos escravos africanos no sul do país A integração dos africanos 2.2 A Ribeira do Sado: uma fixação africana escrava e dispersa Pretos, Negros, Escravos: uma terminologia ambígua Uma provável fixação africana quatrocentista Cartografia da presença africana na região sadina (séculos XV e XVI) 2.3 Escravos e forros africanos na região do Sado: identidade, trabalho, religião e confrarias, alforria Nova identidade e nova língua Condições materiais e quotidianos O trabalho dos escravos Agricultura, pastoreio, pesca, salinas Tarefas complementares da agricultura: carregamentos e actividades produtivas Ofícios e comércio Propriedade e estatuto social Religião e confrarias Práticas religiosas católicas e integração social As confrarias A alforria
O ESPAÇO, OS HOMENS E AS SUAS ACTIVIDADES ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA
CAPÍTULO 3 EMERGÊNCIA E CONSOLIDAÇÃO DE UMA COMUNIDADE ALENTEJANA DE ORIGEM AFRICANA NO VALE DO SADO (SÉCULOS XVIII-XX) 3.1 A formação de uma comunidade alentejana inédita: o fim da escravatura em Portugal e a reorganização dos homens livres (finais do século XVIII, princípios do XIX) Teorias sobre a fixação de populações africanas no Vale do Sado em finais do século XVIII A legislação pombalina relativa à abolição da escravatura em Portugal (1761 e 1773) Reacções de senhores e de escravos à legislação abolicionista pombalina 3.2 As populações, o trabalho nos arrozais e a integração social e cultural no espaço alentejano (séculos XIX e XX) Uma «colónia», segundo Leite de Vasconcelos em finais Oitocentos A cultura do arroz: introdução, difusão e contestação popular na região do Sado A organização da produção do arroz: cultura e trabalho nos arrozais Os quotidianos dos trabalhadores do arroz na região sadina Uma vida difícil 3.3 Uma comunidade alentejana descendente de africanos: memórias do passado e registos contemporâneos A história dos “Pretos ou Mulatos do Sado”: um passado envergonhado e silenciado A comunidade mestiça do Sado: um sentimento de marginalização e de inferiorização regional Os “Mulatos do Sado”: uma vida de trabalho, de doença e de pobreza Marcas de uma africanidade longínqua: o “Ladrão do Sado”, quadras cantadas de influência africana
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
ABREVIATURAS
ANEXO DOCUMENTAL
ÍNDICE DOS MAPAS
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AUTORA:
ISABEL CASTRO HENRIQUES nasceu em Lisboa em 1946, tendo-se licenciado em História em 1974, na Universidade de Paris I – Panthéon-Sorbonne. Em 1993, doutorou-se em História de África na mesma universidade francesa, com uma tese consagrada ao estudo da Angola oitocentista, numa perspectiva de longa duração. Professora Associada com Agregação do Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, introduziu os estudos de História de África em 1974, orientou teses de mestrado e doutoramento e ensinou durante quase 40 anos História de África, História do Colonialismo e História das Relações Afro-Portuguesas, desenvolvendo hoje a sua investigação histórica sobre África e sobre os Africanos no CEsA/ISEG-Universidade de Lisboa. Além de trabalhos científicos de natureza diversa, como projectos de investigação, programas museológicos, exposições, documentos fílmicos, colóquios e congressos, seminários, conferências, publicou dezenas de artigos e livros centrados nas temáticas históricas africanas.
Detalhes:
Ano: 2021
Capa: capa mole
Tipo: Livro
N. páginas: 314
Formato: 23x16
ISBN: 9789896899967
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