O homem saltou lesto do comboio, que logo arranca fumegante como monstro que na sua lentidão procura escapar a um inimigo mais poderoso.
O homem relanceou o olhar e viu a minúscula estação e os campos desertos de plantas e árvores; uma leve neblina parecia desprender-se do solo ameaçando adensar-se e já envolvia tudo de inesperada brancura; avançava a custo o homem, porque o Sol não raiava e o nevoeiro era cada vez mais profundo.
Cego, tacteando com os pés à procura de terra firme. Um vulto aproximou-se e sofrendo da mesma cegueira vem ao encontro dele. Assim pertinho, era uma mulher, toda de negro vestida. Estava ali, corpo contra corpo quase, bem lhe via os olhos esbraseando como lumes, a idade não conseguia nem discerni-la. «Estranho», disse, «você parece não ter substância», disse-o ela ou ele talvez, ou seria só um pensamento que pairando o homem captou.
E a voz dela fez ouvir-se na compacta brancura:
«Onde fica a Aldeia das Pedras?»
O homem arregalou o olhar. E mirando o vulto que de mulher flutuante parecia, pálida como a Lua, inquiriu numa voz que vibrava naquela atmosfera irreal, quase fantástica:
«Onde fica a Aldeia das Pedras?»
«Se você também procura siga-me, sou exímia a descobrir caminhos e sempre encontro o que procuro.»
«Sendo assim, sigo-a.» E a convicção confirmava-se na voz dele.
O vulto flutuante avançou-se-lhe, ele seguiu-o arrastando com os pés calçados de fortes botas as pedras que lhe obstruíam o caminho.
Como num sonho, a mulher continuava um pouco à frente, leve, sem substância, o vestido longo e negro mal tocando o solo. Depois de uns minutos de silêncio ela virou-se e perguntou. O homem sentiu um
arrepio, ao deparar com aquele rosto espectral.
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