Organização da obra: Eduardo Águaboa
Crónicas do Bar dos Canalhas
O preço original era: 15,00 €.13,50 €O preço atual é: 13,50 €.
No Bar dos Canalhas entra-se meio devoto, meio mágico, a farejar a angústia do encontro. No Bar dos Canalhas ama-se o que temos de paz e de selvagem. No Bar dos Canalhas o amanhã é dos loucos de hoje e a loucura finge que tudo isso é natural. No Bar dos Canalhas, todas as palavras têm pronúncia que devem ser cantadas. Elas vestem-nos e a música despe-nos. No Bar dos Canalhas gosta-se de se passar por parvo… entusiasmamo-nos… entoa-se gosto de ti com todas as letras e com o coração fora do sítio. No Bar dos Canalhas cumpre-se menos do que se promete, mas o mérito é indiscutível. No Bar dos Canalhas uma máscara dissimula-nos e revela-nos que há beijos que se dão que já vêem traduzidos. No Bar dos Canalhas uma noite pode ter várias madrugadas a queimarem-nos amarguras. No Bar dos Canalhas há sempre uma epidemia de gajas boas e rapazes jeitosos e isso livra-nos de tormentos. No Bar dos Canalhas, que fica junto ao mar, jamais se pede cedo para nos indicarem a saída, pois do Bar dos Canalhas só se sai devastado para o que nos apetece.
Não há Canalha que não goste do Bar que é admiravelmente verboso e tem aromas de Roma, Paris, Luanda, Rio de Janeiro, Lisboa, Porto, também tem um pouco de Cláudio, um nadinha de Calígula e um poucochinho de Paulo Portas. O Bar dos Canalhas é o pícaro português em versão crioula. No Bar dos Canalhas, onde se vive do que se ouve dos outros, passa–se de tudo e tudo é captado como que por radares, essas grandes orelhas da humanidade. No Bar dos Canalhas numa mesa, num banco, haverá algures sempre alguém que toca a nossa vida ou virá a tocar. Há gente que frequenta o Bar dos Canalhas e paga para ouvir louvores, ou seja, puras mentiras. No Bar dos Canalhas, embora permanentemente sujeito aos ataques da ira, reina a ironia. Daí que, quando não se sabe para onde se vai, todos os caminhos estão errados, excepto os que levam ao Bar dos Canalhas. Bar dos Canalhas; Oh meu amor, meu cachecol! – lê-se no tecto.
E agora a parte mais bonita e simples: Já que trocar os passos no Bar dos Canalhas pode também significar tropeçar numa saudade hesitante, daquelas que não sabem se hão-de ficar ou bazar, o seu patriótico ambiente, seja ele visto como selvagem e reles ou aprimorado e elegante, permite-nos alguma esperança, mesmo que através de métodos nem sempre os mais hábeis. Então, quando os estimáveis leitores forem ao Bar dos Canalhas, todos os autores, esperando que esta Obra indisciplinada vos agrade, pedem-vos que por lá sonhem um sonho por nós… Porque é à noite que os canalhas dos escritores decifram.
[Eduardo Águaboa]