A maioria das cartas de Luísa para Maria Fernanda revela quase tanto da autora como da destinatária […].
Quando Luísa da vida se libertou, Maria Fernanda tinha 44 anos, viveria ainda outros 50 sem nunca esquecer a amiga […]. São suas estas palavras: «Não, Luísa não morreu. Luísa Grande fez mais uma vez as malas e mais uma vez partiu. Para onde? Para um país secreto, misterioso, que é a pátria das almas, e onde um dia, levada pela mesma corrente impetuosa do tempo, irei procurá-la para matar esta grande, dolorosa, saudade e, mais uma vez, com ela, falar da vida, amar a vida, glorificar a vida.»
Sim, eram diferentes, não muito, mas, sim, diferentes. Mas iguais em tudo o que no mais fundo de si mesmas as definia, a sensibilidade, a entrega, o lirismo e a capacidade de amar.
[Mafalda Ferro – FUNDAÇÃO ANTÓNIO QUADROS]
* * *
Diz a Fernanda que o outono é menos triste em Portugal. Mas roubar a tristeza ao outono é roubar-lhe o seu maior encanto… E a respeito da palavra coração ocupar ainda um grande lugar na nossa terra, responder-lhe-ei que dela se abusa terrivelmente, como se abusa de todas as palavras.
Há a mania de afficher o sentimentalismo. E eu prefiro aquele que se cala, que se esconde, que finge rir, para não chorar. […] E o seu romance? Estou desejando lê-lo, […] – em Lisboa mo dará – Quando? Não sei ainda. Talvez em novembro – Tenho pena de deixar o meu querido Hameau e o meu “douce Monastère”. Mas tenho também muitas saudades do céu de Lisboa, das minhas amigas de Lisboa…
E adeus por hoje, senhora Pantera.
Um abraço da sua amiga, Luísa.
(Hameau-Pau, Route de Morlaàs, 9 de outubro de 1928)
Nº Páginas: 192
Capa: mole (16×23)
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